Oxalá nunca fique desta cor...
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"Tudo, menos o tédio, me faz tédio." Fernando Pessoa
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Circule pela esquerda...
Aí está um novo blog que promete dar que falar... circulem sempre pela esquerda!
Zeca Medeiros
Sendo um ouvinte de música há já largos anos, muito me passou pelos ouvidos ao longo dos tempos, começando pelos sons internacionais, vulgo música anglo-saxónica, que nos enche literalmente as rádios e as lojas de discos, passando por todo um conjunto de sons, que vão da música clássica até algum metal.
Desde pequeno que me habituei a ouvir alguma música portuguesa, claro está, mas sempre a (ou)vi, confesso que influenciado por algumas pessoas, como um sub-género da música. São os erros da juventude e da ignorância...
Com o passar dos anos, fui começando a saber dar o devido valor a alguns grupos portugueses - e digo alguns, porque há muitos que nem sequer se esforçam minimamente por construir boas letras e músicas... principalmente letras - e descobri algumas bandas de qualidade superior, para meu espanto. Sim, eu, tão habituado aos sons melodiosos (e relativamente fáceis) da língua inglesa desde miúdo, comecei a descobrir nomes como os Ornatos Violeta, infelizmente já história, os Clã, os Toranja e os Mesa (mais recentemente), só para citar aqueles que mais me agradam, isto para não referir os incontornáveis Rui Veloso, Jorge Palma, Sérgio Godinho ou José Afonso. No fundo, sempre contactei com alguma música portuguesa ao longo dos tempos. Subconscientemente.
Certo dia, tive o privilégio de ter entre mãos (e entre ouvidos) um certo álbum, intitulado "Cinefilias e Outras Incertezas", de um Senhor da minha Terra, com "S" grande (e Terra com "T" grande), chamado José (Zeca) Medeiros. Música feita nos Açores sempre foi, e ainda hoje é, quase um tabu para muita gente. Incompreensível.
Já conhecia o Zeca (vou chamá-lo assim) há alguns anos, através dos meus pais, amigos dele desde a adolescência, e já sabia do seu valor no que toca à realização de séries televisivas. Sempre admirei a forma como consegue encher o écran de emoções fortes, de sentimentos açorianos, como só Nemésio ou Antero. Do seu valor como músico, muito pouco sabia eu. Passo a explicar.
É que este álbum, o "Cinefilias" (chamemos-lhe assim, abreviando), reúne tudo o que o Zeca tem de bom. Cada tema, cada letra, cada melodia aparece como uma autêntica peça única, como episódio de uma das suas séries.
Ainda outro dia tive novamente o privilégio de ir assistir ao lançamento do seu novo trabalho, "Torna-Viagem", o que aconteceu no Hotel Camões, em Ponta Delgada. Se já saí de casa disposto a passar um excelente momento, voltei com vontade que aquele momento tivesse ficado suspenso no tempo... para sempre. Foi inacreditável a qualidade do espectáculo. Sala cheia de convidados e amigos, boa disposição e à-vontade, mas acima de tudo a música. Sempre a música. Se eu pensava que o "Cinefilias" já era excelente e muito dificilmente igualável, tal a sua magnitude, "Torna-Viagem" veio para me desenganar. É arte, pura e simples. Mais uma vez Zeca Medeiros conseguiu transportar toda a sua alma de cinéfilo, de músico, de escritor, de compositor, de actor para um pequeno círculo prateado. Pela segunda vez em 5 anos o fez.
A moral desta história toda é muito simples: se a música portuguesa é subestimada por muita gente, eu incluído (num determinado período da minha vida), a açoriana é muito mais. Todos os que assim pensam devem ouvir este trabalho, e o anterior também, do Zeca Medeiros. Devia haver uma disciplina nas escolas açorianas, desde a 1ª classe, de música açoriana. É que convidar certos artistas nacionais para dar concertos muito bonitos, cheios de maquilhagem, pompa e circunstância, pode ser politicamente correcto, mas esquecer o melhor e mais completo artista português dos últimos tempos devia ser considerado crime.
Já é hora de prestar a devida homenagem a este artista. Se há algo de que nos devamos e possamos orgulhar, nos tempos de hoje, é dos trabalhos que tem realizado ao longo dos tempos. Quer em televisão, quer na música, Zeca Medeiros tem marcado uma identidade açoriana, que tantos procuram saber o que é e porque existe.
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore --
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of someone gently rapping, rapping at my chamber door.
«'Tis some visitor», I muttered, «tapping at my chamber door --
Only this, and nothing more.»
Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow; -- vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow -- sorrow for the lost Lenore --
For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore --
Nameless here for evermore.
And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me -- filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating:
«'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door –
«Some late visitor entreating entrance at my chamber door;
«This it is and nothing more.»
Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
«Sir», said I, «or Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you» -- here I opened wide the door; --
Darkness there and nothing more.
Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, «Lenore!»
This was whispered, and the echo murmured back the word, «Lenore!» --
Merely this and nothing more.
Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping something louder than before.
«Surely», said I, «surely that is something at my window lattice;
Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore --
Let my heart be still a moment, and this mystery explore; --
'Tis the wind and nothing more.»
Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately Raven of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he,
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door --
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door --
Perched, and sat, and nothing more.
Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
«Though thy crest be shorn and shaven, thou», I said, «art sure no craven,
Ghastly grim and ancient Raven wandering from the Nightly shore --
Tell me what thy lordly name is on the Night's Plutonian shore!»
Quoth the Raven, «Nevermore».
Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
Though its answer little meaning -- little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber door --
Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,
With such name as «Nevermore».
But the Raven, sitting lonely on that placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing farther then he uttered; not a feather then he fluttered --
Till I scarcely more than muttered: «Other friends have flown before --
On the morrow he will leave me as my Hopes have flown before».
Then the bird said, «Nevermore».
Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
«Doubtless», said I, «what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master whom unmerciful Disaster
Followed fast and followed faster till his songs one burden bore --
Till the dirges of his Hope that melancholy burden bore
Of 'Never -- Nevermore'»
But the Raven still beguiling all my sad soul into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore --
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking «Nevermore».
This I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamp-light gloated o'er
But whose velvet violet lining with the lamp-light gloating o'er
She shall press, ah, Nevermore!
Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
«Wretch», I cried, «thy God hath lent thee -- by these angels he hath sent thee
Respite -- respite and nepenthe from thy memories of Lenore!
Quaff, oh quaff this kind nepenthe and forget this lost Lenore!»
Quoth the Raven, «Nevermore».
«Prophet!», said I, «thing of evil! -- prophet still, if bird or devil --
Whether Tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate, yet all undaunted, on this desert land enchanted --
On this home by Horror haunted, -- tell me truly, I implore --
Is there -- is there balm in Gilead? -- tell me -- tell me, I implore!»
Quoth the Raven, «Nevermore».
«Prophet!», said I, «thing of evil! -- prophet still, if bird or devil!
By the heaven that bends above us -- by that God we both adore --
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels name Lenore --
Clasp a rare and radiant maiden whom the angels name Lenore».
Quoth the Raven, «Nevermore».
«Be that word our sign of parting, bird or fiend!» I shrieked, upstarting --
«Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken! -- quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!»
Quoth the Raven, «Nevermore».
And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
An his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted -- Nevermore!
Edgar Allan Poe
“Der Herrgott nimmt
Der Herrgott gibt
Doch gibt er nur dem
Den er auch liebt.”
Rammstein
O Senhor tira, o Senhor dá,
mas apenas àqueles a quem também ama.
E assim resto eu, sentado na cama,
olhando um retrato que me olha também.
Será que vou bem? Será bem ir mal?
Nos seus olhos densos tudo é paternal.
Na minha garganta tudo é glacial.
Levanto-me então. Palavras? Não há.
E vou à janela fumar um cigarro.
Não o perco de vista. Ele ainda está lá.
É só um cigarro... prometo que volto.
Promete que ficas aí a guardar-me
até de manhã. E ao levantar-me,
gostava de ver-te e dar-te os “bons dias”.
Pareces cansado... devias dormir.
Mas... o que se passa? O mar despertou!
O vento uiva agora, o teu rosto mudou!
Escorre-te sangue pelo peito abaixo!
Tens o punho em riste!... tu ris-te de mim!
O medo, o temor, o tremor, a moldura!
Procura acalmar-te! Procura! Procura!!
E olhos vermelhos e chamas e lama!
E almas penadas aos pés desta cama!
E gumes as penas da minha almofada!...
E lágrimas caem na água salgada!
Tu iras-te mais, o que é que te fiz?
Pensei que me tinhas como um aprendiz!
Levaste-me tudo; tentei perdoar-te!
Quiseste ser mudo; tentei respeitar-te!
Deixei que pecasses, matasses, roubasses!
Eu dei-te esta alma; esperei que a levasses!
Sou barco sem vela, ou remo, ou motor!
Navego entre grumos de mofo e bolor!
Andei sobre as águas, curei alguns cegos!
Já estive na cruz; tirei os meus pregos...
Já tive família; tu já ma tiraste,
mas restam alguns. Tem almas que baste...
A misericórdia é a arma dos fortes.
Tenho-a carregada, mas não quero mortes...
A tua dispara por tudo e por nada:
Miseri - miséria, mixórdia sagrada.
Voltei a sentar-me na cama espinhada.
Ao lado esperneia um insecto pisado.
O sangue esguichou-lhe pelo peito fora
e a pata que resta esgravata e derrapa.
Mas não me apetece gostar dele agora.
Não vou permitir que ele volte para os seus...
Vês como é fácil? Só posso ser Deus...
31-Julho-2001
Santo Amaro
Tudo, menos o tédio, me faz tédio.
Quero, sem ter sossego, sossegar.
Tomar a vida todos os dias
como um remédio,
desses remédios que há para tomar.
Tanto aspirei, tanto sonhei, que tanto
de tantos tantos me fez nada em mim.
Minhas mãos ficaram frias
só de aguardar o encanto
daquele amor que as aquecesse enfim
frias, vazias,
assim.
Fernando Pessoa
O guarda-redes do Benfica, Moreira, foi escolhido pelo conhecido jornal desportivo italiano "Gazzetta Dello Sport" para o onze da semana. Finalmente o valor deste jovem foi reconhecido por alguém. É preciso abrir os olhos, senhor Scolari! Aqui fica a notícia, dada pelo site oficial do Benfica:
"Entre os melhores da Europa
Moreira no “onze” da semana
Na sequência da magnífica exibição protagonizada no jogo da última jornada com o Sporting, Moreira foi incluído no melhor onze da semana do prestigiado diário desportivo italiano Gazzetta dello Sport”. Como é habitual, este jornal selecciona uma equipa-base sustentada nas exibições realizadas pelos jogadores dos principais campeonatos da Europa.
Moreira foi unanimemente considerado o melhor jogador em campo no “derby” e a sua espectacular actuação não passou despercebida ao referido periódico que decidiu integrá-lo num onze de luxo, composto pelos melhores jogadores da Europa na última jornada.
A título de curiosidade eis a constituição da equipa que tem na baliza o nosso jovem atleta: Moreira; Torres (Valência), Dehu (PSG), Krstajc (Werder Bremen) e Van Bronckhorst (Barcelona); Dhorasoo (Lyon), Lampard (Chelsea) e Murphy (Liverpool); Giuly (Monaco), Ronaldinho (Barcelona) e Fernando Torres (Atlético Madrid)."
Não posso deixar de, justamente, agradecer ao António José, do blog :Ilhas, as lindas recordações que partilhou comigo. Muito obrigado pela "homenagem".
...que posto aqui, em primeira mão, um poema de Cristóvão de Aguiar, colocado como comentário a um dos posts deste meu humilde blog. Aqui deixo, desde já, os meus mais sinceros agradecimentos a Cristóvão de Aguiar. É sempre uma honra.
SE EU PUDESSE...
Se pudesse fingir a voz de rosa,
Cuido que bem melhor me exprimia:
- Perfumada seria esta prosa
E talvez desaguasse em poesia.
Diria o que ninguém disse jamais,
Lapidava teus olhos em diamantes:
- De suas pétalas faria vogais,
E não eram precisas consoantes!
Cristóvão de Aguiar