“Der Herrgott nimmt
Der Herrgott gibt
Doch gibt er nur dem
Den er auch liebt.”
Rammstein
O Senhor tira, o Senhor dá,
mas apenas àqueles a quem também ama.
E assim resto eu, sentado na cama,
olhando um retrato que me olha também.
Será que vou bem? Será bem ir mal?
Nos seus olhos densos tudo é paternal.
Na minha garganta tudo é glacial.
Levanto-me então. Palavras? Não há.
E vou à janela fumar um cigarro.
Não o perco de vista. Ele ainda está lá.
É só um cigarro... prometo que volto.
Promete que ficas aí a guardar-me
até de manhã. E ao levantar-me,
gostava de ver-te e dar-te os “bons dias”.
Pareces cansado... devias dormir.
Mas... o que se passa? O mar despertou!
O vento uiva agora, o teu rosto mudou!
Escorre-te sangue pelo peito abaixo!
Tens o punho em riste!... tu ris-te de mim!
O medo, o temor, o tremor, a moldura!
Procura acalmar-te! Procura! Procura!!
E olhos vermelhos e chamas e lama!
E almas penadas aos pés desta cama!
E gumes as penas da minha almofada!...
E lágrimas caem na água salgada!
Tu iras-te mais, o que é que te fiz?
Pensei que me tinhas como um aprendiz!
Levaste-me tudo; tentei perdoar-te!
Quiseste ser mudo; tentei respeitar-te!
Deixei que pecasses, matasses, roubasses!
Eu dei-te esta alma; esperei que a levasses!
Sou barco sem vela, ou remo, ou motor!
Navego entre grumos de mofo e bolor!
Andei sobre as águas, curei alguns cegos!
Já estive na cruz; tirei os meus pregos...
Já tive família; tu já ma tiraste,
mas restam alguns. Tem almas que baste...
A misericórdia é a arma dos fortes.
Tenho-a carregada, mas não quero mortes...
A tua dispara por tudo e por nada:
Miseri - miséria, mixórdia sagrada.
Voltei a sentar-me na cama espinhada.
Ao lado esperneia um insecto pisado.
O sangue esguichou-lhe pelo peito fora
e a pata que resta esgravata e derrapa.
Mas não me apetece gostar dele agora.
Não vou permitir que ele volte para os seus...
Vês como é fácil? Só posso ser Deus...
31-Julho-2001
Santo Amaro
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