"Tudo, menos o tédio, me faz tédio." Fernando Pessoa

quarta-feira, abril 21, 2004

AGRADECIMENTO II

Não posso deixar de, justamente, agradecer ao António José, do blog :Ilhas, as lindas recordações que partilhou comigo. Muito obrigado pela "homenagem".

É COM MUITO PRAZER...

...que posto aqui, em primeira mão, um poema de Cristóvão de Aguiar, colocado como comentário a um dos posts deste meu humilde blog. Aqui deixo, desde já, os meus mais sinceros agradecimentos a Cristóvão de Aguiar. É sempre uma honra.

SE EU PUDESSE...

Se pudesse fingir a voz de rosa,
Cuido que bem melhor me exprimia:
- Perfumada seria esta prosa
E talvez desaguasse em poesia.

Diria o que ninguém disse jamais,
Lapidava teus olhos em diamantes:
- De suas pétalas faria vogais,
E não eram precisas consoantes!


Cristóvão de Aguiar

terça-feira, abril 13, 2004

LEMBREI-ME...

Sou um confesso admirador de música. Desde pequeno que a ouço, desde a minha adolescência que a amo e que a interpreto e desde que me tornei suficientemente maduro que a componho. Como admirador, gosto de tudo um pouco. Mas gosto mesmo. Aqui há uns anos, comecei a interessar-me por alguma música clássica. Há um compositor norueguês, Edvard Grieg, que "conheci" através de uma amiga, também norueguesa. Apaixonei-me imediatamente, quer pela Noruega, quer pela rapariga, quer pela música de Grieg. Sem querer ser demasiado deprimente, há um pensamento que me tem aparecido várias vezes ao longo dos tempos: sempre que ouço o tema Åse's Death ("A Morte de Åse" [a mãe de Peer Gynt]), da peça Peer Gynt, escrita por Henrik Ibsen, para a qual Grieg compôs uma suite com o mesmo nome, sinto que, quando morrer, alguém tem que pôr essa música no ar. É um tema lindíssimo, que me perfura a pele e a carne, entranha-se-me nos ossos, arrepia-me de todas as vezes que soa... e ponho-me a pensar que só assim morrerei feliz. Façam o download da música aqui.

sábado, abril 10, 2004

Ser um Homem, hoje, é duro,
mas ser eu ainda é mais.
Portador de mil sinais,
ocultando o que procuro.
(há futuro nos sinais?)

Debulhando alguns trigais,
almejando um sol seguro,
inventando luz no escuro
duns clarões ocasionais…
(que animais vêem no escuro?...)

Cai um fruto de maduro;
uma história, mil finais;
mil caminhos, mil iguais.
Cai um fruto por ser puro
e eu cairei jamais!

Dezembro de 2003

Eu estou farto de sorrir e não sorrirem;
eu estou farto de falar e não me ouvirem;
eu estou farto de aparecer e me esconderem;
eu estou farto de parar e me baterem.

Eu não quero mais chorar quando se rirem;
eu não quero ouvir mais vozes sujas, roucas;
eu não quero ser comida para engolirem;
eu não quero ser o pus de tantas bocas.

Eu estou farto de pensar no que não devo;
eu não quero mais sentir tudo o que escrevo;
eu não quero mais passar por parecer;
eu estou farto de estar farto de não querer
ser como sou
e ir como vou.
Mas onde
é que se esconde o resto, o rasto, o rosto
de quem, parado, andou?

Sussurram-me ao ouvido que abalou
por não encontrar sentido, nos sentidos,
no sentido que tomou.

Ah!, eu estou farto do sentido e de fazê-lo,
de procurá-lo e nunca tê-lo!

Fevereiro de 2001

DIE EICHE

Ich bin nur ein kleines Kind
In meinem Reich.
Auch wenn alle besser sind,
Ich bleibe gleich.

Kämst du doch…
Ich liege noch
Im Schatten einer Eiche.
Ich und sie sind fast das Gleiche.
Wenn niemand mich versteht,
Wenn alles untergeht,
Alles was ich tue,
Ich suche ihre Ruhe.
Ich liege in der Weiche
Des Schattens dieser Eiche.
Ich werde ganz vergehen
Und der Baum wird immer stehen.

Abril de 2001, Bremen

SANFTER TOD

Verzweiflung küsst mich auf die Stirn
Lässt langsam meine Hände los
Und sieht mich an ein letztes Mal
Ihr süsses Lächeln ist ehrlos

Weil nichts mehr meiner die Seele stört
Auf einen sanften Tod wart’ ich
Weil mir der Frieden schon gehört
Mehr Gnade braucht das Leben nicht

Weil keiner mehr mich stören kann
Nehm’ ich die Angst von meinem Blut
Ich fass’ das Licht der Sonne an
Dazu gehört all meine Wut

Junho de 2001, Bremen

segunda-feira, abril 05, 2004

DARUM

Die Zeit steht still für mich allein.
Sie hat gemerkt, dass ich nicht wein’.
Sie kommt zu mir und sieht mich an.
Mein Leben fällt ihr in die Hand.

In ihrer Hand kann ich klar sehen,
Dass Zeit und Tränen sich verstehen.
Mit nassen Augen sagt sie laut:
„Damit hab’ ich mein Schloss gebaut.

Ich nehme Kraft von deiner Seele
Durch alle Tränen, die ich stehle.
So sei nie glücklich, hab kein Glück
Und gib mir meinen Schatz zurück.“

„Du existierst nicht“, sag’ ich ihr,
„Du wirst von allen kontrolliert.
Du stehst in Büchern, Blättern, Uhren.
Du lebst in der Gestalt der Nummern.

Man nennt dich Monat, Tag und Jahr,
Bemerkt dich durch ein weisses Haar.
Tagsüber weiss man, wer du bist
Und nachts vergesst man, was Zeit ist.

Geh sofort weg, zurück ins Grab.
Du nimmst mich nicht mit dir hinab.
Ich werd’ das Grab mit Glück bedecken
Um dich für immer zu verstecken.“

„Ein schönes Lied hast du gesungen
Doch du bist wie die meisten Jungen,
Deren Stimmen ich anhalt;
Ich bin schon viele Leben alt.

Erinnerst du dich nicht an mich?
Ich bin die Angst in dein Gesicht;
Ich bin das Blut in deinen Händen.
Du kannst mich nicht von dir abwenden!

Ich werde immer bei dir bleiben.
Ich wohn’ in deinen Eingeweiden.
Ich hält’ dich fest in meiner Hand
Genauso wie den ganzen Sand.

Weisst du, warum ich böse werde?
Ich bin das Fleisch und Blut der Erde!
Verstehst du jetzt, vielleicht, warum?
Darum, du armer Mensch! Darum!“

Maio de 2001, Bremen

CINZA

Sob a luz quadrada, vermelha de horas
e, plastificado, este branco agridoce,
há cinza na foto, com luz de tecido
tecida de pedra, de grito em funil.

Se é petrificada essa luz, que só há,
a cinza na foto também o é já.

Na foto da foto se veste outro alguém,
mas com nuas roupas de quem não é quem,
mas com nuas veias de quem quem não tem.

De água e de verde irrompe o senão;
de vida enconchada cai sumo da mão.

Na foto da nódoa da foto sorvida –
de foto em mão, o néctar da vida;
de mão firme em foto, do néctar a vida.

Sob a luz quadrada, vermelha de horas
e, plastificado, este branco agridoce,
há cinza na foto, com cacos de luz
vidrados de sangue, de grito de pus.

Sangrada de cuspo essa luz, que já há,
a cinza na foto levou-a para lá...

Setembro de 2001