MORRO AGORA
Morro hoje;
e aquilo que vos quero é tão profundo,
que nem Antero, nem Pessoa entenderiam.
O exemplo que vos deixo é tão fecundo,
que só peca por sincero,
ou todos o seguiriam!
Morro cedo;
mas nos tempos que hão-de vir, a trote largo,
a saudade vai cravar almas tão duras.
Gritos cavos vão brotar, sem mais embargo.
Vão jorrar, por toda a parte,
oceanos de amarguras!
Morro agora;
com o Sol em fim de tarde, envolvido
pelo manto leve e puro que nos cobre.
Vou, sereno, sem pavor e destemido,
e, com olhos de almocreve,
vos verei, gente tão nobre!
E daqueles que, por medo ou por desprezo,
não deixaram que eu visse a ebúrnea aurora,
me despeço. E, com o Sol em fim de tarde,
morro hoje, morro cedo,
Morro agora!