"Tudo, menos o tédio, me faz tédio." Fernando Pessoa

sexta-feira, março 12, 2004

MÚSICA & ALMA

No seguimento de uma iniciativa do André, na qual tenho tido o prazer de participar, quero propor a todos os visitantes deste blog que partilhem os seus gostos musicais. Ponham letras de amor, de desamor, de ódio, de morte, de tristeza, de alegria, de solidão... o que vocês quiserem. Mas escolham letras que vos digam muito... ou, pelo menos, alguma coisa. Vou manter esta iniciativa até ao dia 14 de Maio e depois vou escolher um vencedor. Não sou nenhum júri dos Ídolos, por isso não tenham medo! É só mesmo em jeito de divertimento. Participem! Para dar o mote, aqui vai uma letra muito especial.

ISALTINA

Ah, não te exaltes… não te exaltes, Isaltina.
Pois eu bem sei que já são 5 da matina.
Foi só um copo p’ra afastar o desencanto,
Um pé de dança p’ra quebrar este quebranto.
Eu, na verdade, sou um homem de respeito,
Mas tenho andado assim um tanto insatisfeito.
Foi só um copo p’ra quebrar esta rotina.
Ah, não te exaltes, não te exaltes, Isaltina...

Tu sabes bem que serás sempre a minha amada.
És o meu Sol, a minha luz na madrugada!
Mas há alturas em que me perco e desatino,
E então entro numa de macho latino.
Pois há um lado na noite que me fascina.
Ah, não te exaltes... não te exaltes, Isaltina.

Mas sinto que bem cá no fundo sou um galã;
Em cada homem há um secreto Don Juan.
Quero esquecer que neste mundo eu nada mando,
Por isso eu bebo, e até me sinto o Marlon Brando.
Agora a sério... sei que apanhei uma cardina...
Ah, não te exaltes, não te exaltes, Isaltina.

Fui apanhado como peixe no anzol
E ainda navego nos vapores do tintol...
Mas quando penso nas desgraças deste mundo,
Quero atacar a garrafinha até ao fundo.
Vou esquecer que há uma dor em cada esquina...
Oh, não te exaltes... não te exaltes, Isaltina.

Vou-te cantar uma canção fora de moda,
Mesmo que sinta a cabeça a andar à roda.
Eu sei que tens um bom gosto, muito despótico,
Mas aprecia o meu estilo Pavarótico!
Muita atenção! Já podem subir a cortina!
...Oh, não te exaltes, não te exaltes, Isaltina.

É que esta vida só nos traz tanto desgosto...
Tanta chatice, tanta mentira e tanto imposto!
Tu sabes bem que os tempos têm sido tão duros
E que eu não passo de um agente dos inseguros.
Ok, ok... vou falar baixo, em surdina...
Não te exaltes... não te exaltes, Isaltina.

Tu sabes bem que eu também tenho o meu orgulho,
Que já estou farto de fazer papel de embrulho...
P’ra onde vais? Oh, por favor, não vás embora!...
Olha que dizem que um homem nunca chora...
P’ra onde vais? Já não entendo patavina...
Oh, não te exaltes, não te exaltes...
Oh, não te exaltes, não te exaltes...
Não te exaltes... não te exaltes!...
Isaltina!?...


Zeca Medeiros

sexta-feira, março 05, 2004

"HERRAR É UMANO"

Há quem se refugie em ditados populares, com o objectivo de justificar as suas falhas, gralhas, tralhas ou, até mesmo, o seu analfabetismo.

Há já algum tempo que tenho vindo a observar o mundo dos blogs – a tão afamada “blogosfera” – com alguma atenção e noto que há, efectivamente, alguns de altíssima qualidade. O único problema, contudo, é verificar que há “entes superiores” nestas andanças, ostentando um ar paternal, que dão as boas-vindas a todos os que se iniciam nesta aventura.

Estas criaturas, tão paternalistas, tão acolhedoras, só se esquecem de um pormenor: há quem saiba bastante mais do que eles. Há quem escreva bem melhor do que eles. Tanto paternalismo chega a tornar-se patético, na minha óptica. Se, ao menos, me dessem as boas-vindas em bom português, sem tentativas de corrigir coisas que estão certas, não me importaria absolutamente nada. Mas não. Aparecem-me à frente, citam livros que, a mim, não interessam nada, tentando impingir-me termos “correctos”... não há termos correctos para uma palavra derivada do inglês, como “blog” ou “blogger”. Se me apetece “traduzir” ou “aportuguesar” para “bloguista”, em vez de “blogueiro”, como me quiseram “ensinar”, assim o faço.

Outro aspecto que me incomoda é o facto desses “Lord Bufas” serem de tal modo “talabazofas”, que chegam a pensar que as suas obras são, de facto, de elevado grau de qualidade. Escrevinham, escrevinham, esgravatam nas suas teclas até não poderem mais e depois, já cansados de se acharem tão bons, tão cultos e tão intelectuais, colocam os seus textos para açoreano ver. E açoreano vê, e açoreano fica sem saber se há-de rir, se há-de ficar com uma indigestão para o resto da semana...

É por isto que nunca me tento refugiar em ditos populares ou frases feitas. Porque sei escrever (tive bons professores ao longo dos anos... e um bocadinho de inteligência, claro), sei que sei escrever e não há nada nem ninguém que me possa convencer do contrário. Sou casmurro como o diabo!

“Herrar é umano”? Sim, como tudo na vida. Mas não saber escrever não é errar.